Teto de Gastos ameaça capacidade do SUS para enfrentar coronavírus

Teto de Gastos ameaça capacidade do SUS para enfrentar coronavírus

“O Brasil está visivelmente fragilizado para enfrentar os desafios trazidos pela pandemia”. A avaliação é de Livi Gerbase, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), ao analisar o impacto do Teto de Gastos – Emenda Constitucional 95 – em programas sociais e da saúde no país.

 

Estudo realizado pelo instituto revela que a medida reduziu em quase 9%, nos últimos dois anos, as verbas públicas para políticas sociais que poderiam auxiliar na proteção da população mais vulnerável à atual pandemia. Além disso, os recursos da saúde estão estagnados desde 2018, mas a população aumentou.

 

No caso da saúde, o Inesc aponta que, em 2019, o setor perdeu R$ 20,2 bilhões por conta do Teto de Gastos. E indica a falta de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos estados do Norte e Nordeste como exemplos de como essa redução de verba na saúde impede o Sistema Único de Saúde (SUS) de responder minimamente à pandemia de coronavírus nessas regiões.

 

O relatório do Inesc avaliou os orçamentos de sete conjuntos de políticas públicas: educação, direito à cidade, socioambiental, criança e adolescente, igualdade racial, mulheres e povos indígenas. “Em um país onde os pobres, negros, mulheres e indígenas são sempre os mais penalizados, a pandemia da Covid-19 vai tornar tudo ainda mais difícil para essa grande parcela da população”, afirmou Livi.

 

Na Educação, dos R$ 123 bilhões previstos no orçamento de 2019, foram utilizados R$ 106 bilhões. O valor é inferior aos investimentos públicos executados em 2018, quando foi gasto, em termos reais, R$ 109 bilhões. O fomento à pesquisa registrou perda de metade dos recursos para a Coordenação de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nos programas de igualdade racial, os dados mostram que, de 2018 a 2019, a área perdeu 47,55% do seu orçamento.

 

Para superar essa situação e permitir uma estrutura de políticas públicas que auxilie a população no enfrentamento da pandemia de coronavírus, o Inesc sugere: a revogação imediata do Teto de Gastos; recomposição dos orçamentos do SUS; manutenção dos empregos e salários, com políticas de proteção aos trabalhadores informais; reforma tributária com taxação de lucros e dividendos e contribuição mais justa; transparência quanto ao balanço das atividades de combate ao coronavírus, detalhando a execução dos recursos para a área.